Renato Lopes

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Viagens e Aventuras


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Uma Aventura pela Austrália - 2007

Uma Aventura pela Austrália - 2007

O sonho de realizar essa aventura teve início no Reveillon 2001 quando eu e minha família visitamos meu irmão, Alvaro Lopes, que vive em Sydney (Austrália) desde 1989. Ali se manifestou, pela primeira vez, meu interesse em conhecer melhor o país (o sexto do mundo em tamanho e a única nação da Terra que é uma "ilha continente"). A melhor maneira de fazê-lo, é claro, seria percorrê-lo sobre duas rodas, interagindo com suas belezas naturais, cultura e hábitos cotidianos.
A idéia inicial era percorrer 7.000 km de motocicleta, passando por cinco estados australianos. Com o roteiro definido em outubro de 2006 – e o encaminhamento dos procedimentos de visto e aquisição de passagem – solicitei a meu irmão que reservasse uma moto BMW GS 1200 para duas semanas, no período e 03 a 16 de janeiro de 2007. Vale ressaltar que a diária de moto na Austrália é mais cara que na Europa e nos EUA. O Alvaro conseguiu um período de férias para me acompanhar na viagem – só não houve tempo para fazer a carteira de habilitação australiana para motocicleta, o que não foi empecilho para me acompanhar como garupa.
Chegando a Sydney, no coração da Austrália, logo notei, em familiares e amigos próximos, um ar de espanto e preocupação quando falei sobre o roteiro (no qual estava prevista a saída da costa e o avanço por regiões desérticas). Quase toda a concentração populacional da Austrália está na costa. Avançando-se 200 a 250 km para dentro do continente, avistamos o início de uma grande região desértica onde a população se resume a pequenas cidades e povoados.
Antes de me lançar à aventura de pilotar uma motocicleta por estradas australianas, procurei me familiarizar com o trânsito da mão inglesa, utilizando um carro e uma camioneta. Parece fácil – mas não é. A condução do veículo em si não é diferente; o que preocupa, mesmo, são nossos reflexos. Já que a atenção passa a estar invertida e concentrada do lado direito. Mas nada que uns três dias de prática, a gente não se adapte.
CAMBERRA E MELBORNE
No dia da partida, após uma rápida familiarização com a moto (no Brasil, piloto uma Suzuki V Strom), iniciamos a jornada após o meio-dia.
Nosso primeiro objetivo: conhecer Canberra, capital da Austrália. Rapidamente, pegamos a autopista que nos levaria a Canberra, a Highway Hume 31. É uma estrada de primeira, que oferece todo o conforto e segurança aos usuários – mas algo me frustrou, inicialmente. A velocidade máxima permitida, mesmo nas auto-estradas, é de 110 km/h. E eu com uma máquina espetacular nas mãos…
Diferentemente do que ocorre no Brasil, os motoristas de lá respeitam esse limite – seguramente, em razão da cultura, das inúmeras câmaras de controle de velocidade ao longo da pista e da rigidez da legislação.
No caminho rumo ao sul, um cenário de muitas fazendas – e muita seca para aquela época do ano. O céu, de um azul lindíssimo e salpicado por nuvens brancas, amenizava o sol abrasador.
Na primeira parada em um complexo de serviços – (para uma esticada e para beber água), conhecemos um casal que, a bordo de uma Harley-Davidson, também estava a caminho de Canberra. Um papo rápido e algumas fotos, depois, partimos e rodamos juntos por algum tempo, até a nossa próxima parada (para um novo clique em um vale grandioso, com uma vista que se perdia no horizonte).
Chegamos a Canberra antes das 17 horas, o que nos permitiu conhecer os principais pontos turísticos da cidade – como o Parliament House, cuja fachada é adornada por mosaicos aborígines, além do Australian War Memorial, Higt Court, Telstra Tower, Old Parliament House e o centro. A cidade se destaca pelo planejamento, pela beleza da arquitetura, pela limpeza e por seus milhares de jardins e parques, para uma população de, aproximadamente, 300 mil habitantes.
No dia seguinte, retornamos para a Highway Hume 31, que nos levaria até Melbourne (capital do Estado de Victoria). A estrada continuava ideal para se rodar de moto – mas observamos, na entrada do Estado , que as placas de advertência indicando a existência de câmaras de velocidade haviam sumido. O cuidado com a velocidade passa a ser outra preocupação, além da mão inglesa. Próximo a Melbourne, dei a primeira "mancada" ao me aproximar de uma rótula ampla, como todas na Austrália: não olhei para a direita e foi com a intervenção do meu anjo de guarda que não provoquei um acidente. Era o segundo dia de estrada – e meu "condicionamento" à mão inglesa ainda não estava completo…
A região mais ao sul do estado, em razão da seca prolongada, foi a que mais sofreu nesse verão australiano – com incêndios ininterruptos por mais de dois meses, consumindo centenas de hectares de mata de eucalipto. Este fator fez com que desistíssemos de rodar pela região.
Melbourne é considerada a capital cultural do país. Segunda maior cidade da Austrália, ostenta uma elegante e charmosa arquitetura e várias opções de diversão. Os destaques são os cafés, bistrôs e ótimos restaurantes.
Deixamos Melbourne na manhã do dia seguinte com destino a Adelaide (capital do Estado de South Austrália), mas sabíamos que seria preciso fazer um pit stop no caminho, pois seriam 1.220 km a percorrer em um dia que prometia ser muito quente.
ADELAIDE
Agora rodávamos pela Highway Western A8, em uma pista ótima e com retas intermináveis. Mas, naquele dia, nem tudo seria perfeito: o calor era insuportável e não conseguíamos ficar mais do que dois minutos parados sob o sol. Parecia estar "cozinhando" – e não era para menos: nos encontrávamos bem embaixo do maior buraco da camada de ozônio do planeta. Na Austrália, o câncer de pele tem a sua maior incidência do mundo.
Após o meio-dia, paramos para um lanche leve, como de costume em viagens de motocicleta.
O tempo começou a mudar e os ventos fortes, vindos do oeste, dificultavam a pilotagem. Por vezes, me forçavam a invadir a pista da direita. Tudo ficava mais difícil e perigoso quando precisava ultrapassar (ou quando éramos ultrapassados) os titânicos "treminhões" que rodam pelas estradas australianas. Foram quilômetros de angústia e de preocupação – sem mencionar a luta para manter a moto equilibrada, muito pesada para aquelas circunstâncias.
Ao passarmos por uma região vinícola, na localidade de Great Western, realizamos uma parada estratégica no Garden Gully Wine, um tipo de quiosque para degustação e venda de vinhos no meio do nada. Mesmo localizado em uma região rústica, o lugar oferece conforto de primeiro mundo. Uma simpática senhora australiana atende aos visitantes com simplicidade e muita atenção. Enquanto degustávamos um bom vinho, ela nos disse que o calor escaldante se devia à estiagem de mais de oito meses.
O vento continuava a soprar forte – e eu já estava ficando estressado de pilotar naquelas condições. Ao chegarmos a Kaniva, uma pequena cidade na região do Little Desert (por volta das 16 horas), procuramos um hotel e ali resolvemos ficar. Trata-se de uma típica cidade do interior, com menos de 1.000 habitantes, apesar da ótima infraestrutura básica. Instalamo-nos em um motel.
O proprietário do estabelecimento nos informou que o forte vento era reflexo de uma tempestade que varreu boa parte da costa do Western Austrália, banhada pelo Oceano Índico. Um fenômeno comum na região, que destruiu muitas propriedades e plantações. Para relaxar, fomos até um aconchegante pub local degustar a boa cerveja australiana.
Permanecemos em Adelaide um dia e meio para conhecermos a bela cidade e região vinícola nas montanhas. Adelaide é linda, limpa e chique – ali, é comum ver belas Ferrari e Lamborguini rodando pelas amplas avenidas. Depois do nosso tour pela cidade, fomos para o Pub Stage, um dos points mais movimentos do local, em busca de um "big copo" de cerveja. Decidimos que, no dia seguinte, daríamos uma "esticadinha" até uma região de montanhas próxima.
O domingo amanheceu nublado. Partimos às 9 horas, rumo às montanhas, e encaramos um percurso de, aproximadamente, 150 km em meio a curvas, pequenas cidades e montanhas que lembram muito a Serra Gaúcha, onde até o clima é idêntico. É o passeio predileto dos motociclistas de Adelaide. Paramos para tomar um gostoso café e comer um folhado com salsicha na calçada de um estabelecimento típico do interior, com um ar bucólico, mas de lindíssimo visual. O passeio é imperdível!
CANGURUS NA ESTRADA
Os dias seguintes foram reservados para desvendar e sentir as emoções de rodar pelo interior, o chamado Outback australiano. Seguimos na direção norte do país, passando pela Mount Lofty Range, onde se inicia a região desértica e mais inóspita, com temperatura acima de 43º C.
O que chama a atenção no trecho de mais de 600 km até Broken Hill, cidade histórica, aconchegante e com ótima infraestrutura para turistas, é a quantidade de cangurus (um dos símbolos da Austrália) mortos, ao longo da estrada, atropelados por caminhões ou carros. Sem medo de errar, num trecho de 240 km desviamos de mais de 150 cangurus mortos, de todos os tamanhos – alguns chegavam a pesar mais de 100 kg. O exagero na quantidade de placas de advertência indicando a presença de cangurus nos próximos quilômetros, portanto, fazia sentido. Diminuímos a velocidade e nos mantivemos atentos a ambos os lados da pista. Os carros que circulam na região são dotados de pára-choque ao estilo dos caminhões. Felizmente seguimos sem grandes sustos.
Reservamos a tarde para explorar Broken Hill e até encontramos a "Brazil Street", que tratamos de registrar em fotos. Prosseguimos no dia seguinte, sempre rodando pelo interior, pela Barrier Highway 32. Pudemos conhecer várias cidadezinhas – a sua maioria, com menos de 500 habitantes – em cujas imediações há um bom número de aborígines. Tínhamos a informação de que costumam solicitar dinheiro aos visitantes da região. Não fomos incomodados por eles e, em nenhum momento, nos sentimos ameaçados – mas constatamos que, antes do meio-dia, muitos já se estavam embriagados.
Talvez isso ocorra porque não se sentem estimulados a trabalhar – o governo oferece a cada família aborígine um tipo de auxílio mensal (talvez seja a forma que o Estado encontrou para se desculpar pelo extermínio da cultura aborígine).
Logo alcançamos a Newell Highway 39 e, depois, a Gore Highway 85, que nos levaria à pequena Noosa, última cidade de Sunshine Coast, no Estado de Qeensland. É uma praia paradisíaca, para turistas dispostos a pagar caro pelo verde exuberante, badalação de primeira e restaurantes, cafés, lojas e hotéis charmosíssimos.
Depois de um dia em Noosa, iniciamos a descer pela costa Sul do Oceano Pacífico, onde conhecemos muitas praias, até chegarmos a Brisbane, capital de Qeensland (que combina a vitalidade dos centros modernos com uma atmosfera característica de cidade do interior).
É imperativo fazer uma parada em Gold Coast – que, além das praias deslumbrantes de areias brancas e águas cristalinas, tem os encantos da Surfers Paradise, um verdadeiro playground em frente à praia. A noite é movimentada, com inúmeras opções de restaurantes, pubs e casas de shows sofisticadas, onde é possível curtir um bom Jazz.
NOVAS PAISAGENS
Um passeio pelas estonteantes curvas da Tamborine Mountain, distante 45 km da costa, foi mágico e compensador. Do alto da montanha, consegue-se ver toda a costa do Pacífico da região de Gold Coast. É claro que não dispensamos uma boa degustação de vinhos da região e um gostoso café, servido em um típico chalé inglês.
Seguimos em direção a Sydney, rodamos mais de 200 km pelas montanhas, sempre em boas estradas e avistando belas paisagens e muito verde por todos os lados. Retornamos à costa pela Pacific Highway 1, com passagens por Byron Bay, Lennox Head, Ballina, Urunga, Nambucca Heads, Port Macquarie, Nelson Bay, Newcastle até o retorno a Sydney.
Ao todo, foram 5.350 km rodados em um "tapete de asfalto". E, apesar de ter procurado um único "buraco" para fazer uma foto, não pude encontrá-lo. Preferimos reduzir a quilometragem rodada para privilegiar uma exploração maior das cidades e da cultura australiana.
Ao longo de duas semanas, viajamos em uma moto BMW GS 1200 que só exigiu combustível e nos transmitiu muita confiança, mesmo na região desértica (quando rodávamos vários km sem cruzarmos outros veículos e, sequer, pequenos povoados).
O abastecimento não é problema na Austrália – e a gasolina é mais barata que no Brasil. Esteja o viajante onde estiver, sempre haverá uma estação de serviço e alguma infraestrutura de apoio em um raio de 200 km – mesmo no deserto. Muito convenientes, por exemplo, são as "rest areas" – área de repouso e apoio, nas quais há sanitários limpos, papel higiênico, energia solar, rampa de acesso para deficientes, abrigos com mesas para lanches, bancos, churrasqueira, reservatório com sistema de coleta de água da chuva, recolhimento de lixo, etc.
O que mais incomoda quando se viaja no verão australiano é o calor, simplesmente escaldante. Alguns motociclistas e policiais com os quais conversamos nos alertaram sobre as elevadas temperaturas nessa época do ano, recomendando o inverno para se viajar pelo deserto. O uso de protetor solar é obrigatório, assim como beber muita água. De fato, fazer esse roteiro no inverno é muito mais confortável, pois a temperatura fica próxima dos 20º.
A segurança na Austrália – em grandes e pequenas cidades e na estrada – é total. A polícia muita bem aparelhada pode ser notada em toda parte, inclusive nas vias que cortam o deserto. Contudo, o grande diferencial é a tecnologia das câmaras que vigiam 24 horas os movimentos de pessoas e veículos.
Os estados mais desenvolvidos são New South Wales, Victoria e South Austrália, onde se concentram os parques industriais e áreas produtivas de carne e grãos. Já que permaneci até o dia 11 de fevereiro no país, pude conhecer melhor a grande Sydney, assim como a região de Blue Mountains, onde se contempla uma paisagem de canyons, montanhas, florestas selvagens e cachoeiras.
São tantos os atrativos da maior e mais antiga cidade da Austrália que é difícil enumerá-los nesse pequeno relato. Mas posso destacar a arquitetura ultramoderna do centro econômico e financeiro da cidade, os incontáveis parques, as belezas naturais preservadas, a badalação da vida noturna, a gastronomia internacional, as belas praias, o Opera House, o Darling Harbour e a Sydney Tower. É uma cidade simplesmente incomparável e de face multicultural, além de ser acolhedora e cosmopolita.
Meu conselho final aos aventureiros: incluam a Austrália em seus planos de motoviagem. É um lugar único, que merece ser visitado!
Por Renato Lopes

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