Renato Lopes

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Viagens e Aventuras


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Euro Trip Maxitrail - Leste Europeu - 2014

Euro Trip Maxitrail - Leste Europeu - 2014

Bem, meus amigos e irmãos motociclistas.
Depois do pisar na Europa, no início de abril, com a Wilma, na Espanha e Portugal, um projeto de rodar de moto por lá, que estava guardado em um arquivo do computador, acabou renascendo em um encontro dos amigos do Maxitrail em Gramado.
No deslocamento de Canoas para Gramado, na companhia dos amigos Felipe Klein e Leandro Aggens, surgiu o papo de conhecer um pouco do leste europeu. O Felipe falou do projeto, e eu fiquei muito interessado porque era exatamente a minha ideia para rodar de moto na Europa. Aqui se encaixa bem o ditado popular que “cavalo encilhado não passa duas vezes”, e eu, de pronto, me candidatei a integrar o grupo de viagem que já estava se formando, pois todo viajante e aventureiro que se preze tem de estar atento às oportunidades para realizar seus sonhos.
Assim, com a generosidade e aquiescência dos demais integrantes do grupo que se formava, eu passei a fazer parte do grupo e, após várias reuniões descontraídas em Porto Alegre, estabelecemos três roteiros. O principal, com parte do leste europeu, incluia a Alemanha, República Tcheca, República Eslováquia, Hungria, Croácia, Eslovênia e Áustria. Em razão da possibilidade de chuvas nessa região nos meses de setembro e outubro, que seguramente dificultaria o aproveitamento da viagem, deixamos, como plano “B”, a Alemanha, França, Espanha, Itália e Suíça. O plano “C” seria no sentido oposto, para o oeste, com Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Irlanda e França.
Tudo organizado, ajustes de datas, tempo disponível dos amigos, passagens compradas, motos locadas e hotel reservado em Frankfurt, foi só marcar o encontro no aeroporto, dia 24 de setembro, com os amigos Felipe, Ramon, Rotband e Alexandre, e embarcar. Registre-se, todos grandes motociclistas e experientes em longas viagens de motocicleta, sempre um aprendizado a mais para quem gosta de ir além de onde se encontra.
Na chegada ao hotel em Frankfurt, por volta das 17 h do dia 25, fomos recepcionados pelo amigo Paulo Guilherme, o CP, outro parceiro, que viajou uns dias antes para visitar alguns parentes por lá. Hotel da rede B & B, muito bom e quase ao lado da Allround Motorradvermietung, onde locamos as motos, dica muito boa do amigo CP, que, aliás, foi quem coordenou todo esse processo de locação. Foram uma GS 1200 Adv, três GS 1200 e duas F 800 GS.
Instalamo-nos e fomos direto pegar as motos, para, no dia seguinte, partir em direção à República Tcheca, pois a previsão do tempo para os próximos dias era boa, com temperaturas que variavam entre 8 e 23 graus, e sem chuvas, perfeito para motocar.
À noite, por indicação do recepcionista do hotel, fomos jantar no restaurante Kuhstall (estábulo), distante umas cinco quadras, muito legal. À primeira vista meio sombrio pela decoração carregada, mas com ótimos pratos típicos, que nos foram indicados pelo Felipe e CP, e com atendimento bacana. Foi a noite de brindarmos a oportunidade de estarmos ali entre amigos para o início de uma viagem de motocicleta. A turma adorou o chope e a cerveja, ao contrário do “badalado” vinho de maçã, que parecia mais vinagre e rendeu boas risadas.
Dia 26/09, partimos para Praga e, como o trecho do dia era o mais longo do roteiro, saímos lá pelas 8 h e 30 min, pegamos uma autoestrada e, logo adiante, ao sairmos da grande Frankfurt, já entramos em uma Autoban. A turma das GS 1200 enrolou o cabo e passou pela polícia sorrindo, uma pena que era intracapacete.
Até a fronteira havia muitos trechos que alternavam entre Autoban e autoestrada, e alguns em obras de ampliação de pistas, com desvios cuja velocidade era de 80 km/h, momento em que eu conseguia alcançar a turma. O interessante é que apesar de aquela região parecer um grande canteiro de obras, por lá, as obras têm farta sinalização e segurança, inclusive com data para término. Ô maravilha! Postura de governo sério, que respeita o contribuinte.
Em toda a região ao norte da Baviera, Würzburg, Nürnberg, Amberg, Weiden, e entre os muitos outros vilarejos por onde passamos, há uma paisagem rural rústica e remota, adorável, que impressiona pela organização das plantações, estradinhas de acesso com asfalto até a porta das propriedades e matas verdejantes.
A fronteira é uma linha imaginária, só observamos que adentramos na República Tcheca porque havia uma placa indicativa do novo país. Continua a autoestrada em ótimo nível, e a paisagem não muda muito. Fizemos uma parada para abastecer, trocarmos um pouco de euro por coroa tcheca e fazer um lanche rápido.
O pit stop também permitiu verificar um pequeno incidente, em que um forro de frio da jaqueta de um viajante se soltou das amarras e foi triturado pela roda traseira da moto, com a graça do Supremo Criador, a roda não travou, apenas ocasionou pequenos danos e rendeu boas "cornetadas".
Temperatura amena, um pouco nublado, ótimo dia para pilotar, decidimos fazer uma pequena alteração no roteiro e dar uma passadinha na cidade de Pilsen, a quarta maior cidade da República Tcheca, com pouco mais de 160 mil habitantes, mas que é nada menos a cidade mãe das pilsners de todo o mundo, a “Pilsner Urquell” (pilsen original), onde tudo começou.
Fomos diretamente para a Praça Central, um marco da cidade, onde encontramos um centro muito compacto, rodeado por belas construções românicas e góticas, dominada pela enorme Catedral de São Bartolomou, de meados do século 14, ao centro. É uma combinação de exposições que se interage ao ar livre, com a linda atmosfera do Velho Mundo que o torna um tributo adorável, mesmo para os não iniciados.
Como a ideia era chegar ainda no final da tarde, a Praga, apenas realizamos o registro com algumas fotos, também um lanche natural e tomamos um café enquanto continuávamos a contemplar o movimento tranquilo e de paz num lugar que foi cenário de muitas guerras ao longo dos séculos.
A visita à Cervejaria Pilsner Urquell e à Sinagoga Grande, a terceira maior do mundo, ficou para uma próxima visita, e a degustação só foi adiada para o jantar em Praga.
A temperatura já começava a baixar, e as nuvens se mostravam inquietas quando retornamos à estrada com os GPS ajustados para o hotel B & B. Não demorou e precisamos fazer uma parada técnica para colocar roupa de chuva, mas já estávamos a pouco mais de 50 km de Praga.
Como a localização do hotel era na região da parte antiga da cidade e chegamos ainda com a luz do dia, fomos conhecer um pouco do centro, a praça central, o calçadão e a Torre da Pólvora, um majestoso pórtico gótico que marca a entrada da cidade velha.
Após uma boa caminhada com muitas fotos ao entardecer e início da noite, era chegada a hora de experimentar a culinária tcheca. Escolhemos o restaurante do Hotel Prague Inn, parte externa, bem ao centro do “furacão” como é a noite de Praga. Mesmo com pouco tempo na cidade, foi possível perceber que, à noite, Praga é simplesmente encantadora e faz jus ao carisma de ser uma das mais belas cidades do mundo.
Os pratos típicos são essencialmente à base de carne de porco. É bom conhecer um pouco para não errar feio no pedido. Não erramos, mas podemos dizer que não acertamos em cheio. A turma aproveitou para degustar a cerveja Pilsner Urquell.
Dia 27/09, nosso destino era chegar a Bratislava, na República Eslováquia, distante pouco mais de 280 km, e, assim, foi possível aproveitarmos a manhã para conhecer um centro velho e, depois, o outro lado do Rio Vltava que corta a cidade de Praga.
Ao retornar à região central novamente, com um pouco mais de tempo, foi possível observarmos melhor toda a bela arquitetura e o charme medieval com suas peculiaridades e detalhes de figuras entalhadas nas fachadas, verdadeira preciosidade da arte.
Após realizarmos muitos cliques no coração da cidade, a praça da prefeitura, circundada por casarios seculares e inúmeras igrejas, em especial o prédio da prefeitura antiga, com fachada contendo o brasão da cidade velha com a inscrição “ Praga, Capital do Reino”, apreciamos o relógio astronômico, que mostra a hora, dia, mês, posição da Terra, a órbita do Sol e da Lua e estações do ano. É o que consta em todos os informativos, mas complicado de entender. A igreja de N. Srª Diante de Tyn com as cúpulas de suas duas torres tipo agulha, apontando para o céu, se destaca e é referência da cidade. Chama a atenção a efígie da Virgem Maria em ouro entre as torres. Para qualquer lado que girarmos o olhar, encontraremos uma parte da história secular de Praga. É simplesmente impossível tentar descrever tanta beleza.
Passamos para o outro lado do rio por uma das atrações mais conhecidas de Praga, a Charles Bridge. Quando saímos das ruelas medievais do centro velho e nos aproximamos da ponte, logo percebemos o porquê da sua fama. Fomos recepcionados por uma torre gótica fortificada, na cabeceira da ponte, do século 14, tendo como destaque, entre várias, a escultura de São Vito. Ao lado direito, antes da ponte, se destaca um belíssimo prédio, que abrigou um colégio dos jesuítas. Um visual magnífico, infinitamente mais belo recordar as leituras, fotos e filmes sobre Praga.
A travessia da ponte, por si só, é um ótimo passeio com uma vista privilegiada, do castelo e das torres da Igreja São Vito, além de curtir um pouco da história através das muitas esculturas de santos dispostas ao longo da ponte. A mais visitada e tocada é a de São João, que, segundo a crença de muitos, promete sorte, talvez por ser a primeira a ser colocada. Pelo sim, pelo não, há registro fotográfico de todos os integrantes do grupo tocando a estatueta ...
Os mais de 500 metros da travessia devem ser percorridos com tranquilidade e sintonia com o astral do local, com intenso trânsito de visitantes e também frequentada por músicos, pintores e ambulantes. A torre do outro lado, entrada da cidade nova, igualmente é digna de registro.
A caminhada até o alto do castelo é íngreme e exige esforço físico, que é compensado com o visual ao longo das ruas, recheadas de construções exuberantes e magníficas obras de arte, e, ao final, a magnitude do complexo do Castelo de Praga, que incluí a Catedral de São Vito. Visitar e percorrer a história milenar desse santuário, com seu estilo e obras esplêndidas, seguramente é um privilégio. A altura da abóbada é impressionante, a exemplo de tantos outros detalhes.
A beleza de Praga é inimaginável e impossível retratar em palavras, talvez as imagens que o grupo amealhou possam dar uma ideia dessa deslumbrante cidade.
Retornamos ao hotel, e, passado do meio-dia, partimos em direção a Bratislava por uma ótima autoestrada e, após uns 120 km, seguimos por estradas vicinais, pois queríamos conhecer um pouco da vida no interior da República Tcheca. A estrada estreita, asfalto em perfeitas condições, boa sinalização, pouco tráfego, topografia quase plana, muitas plantações, pequenas propriedades e boas curvas, nos proporcionaram um belo cenário para motocar, sentir o modo de viver dos tchecos e fazer alguns registros.
Após passarmos de Jihlava, região de belas e organizadas propriedades rurais, encontramos um restaurante muito típico que se confundia com a essência da vida campesina, a qual só identificamos pela placa indicativa. Simples, mas com conforto, bom atendimento e boa comida. Algumas fotos e seguimos rumo a Viena, na Áustria, para, ao menos, tomarmos um café.
Antes da fronteira, uma parada para adquirirmos a vinheta, tipo selo, ao custo de seis euros, para colar na moto, uma espécie de pedágio antecipado para rodar na Áustria, com validade para dez dias. Em Viena, apenas abastecemos as motos e tomamos um café, seguindo por autoestrada, para desconforto de alguns parceiros, e chegamos antes do anoitecer em Bratislava.
Aproveitamos a noite para conhecer um pouco do centro da pequena, tranquila e pouco conhecida capital da República Eslováquia. A cidade é cortada pelo Rio Danúbio que, de certo modo, lhe proporciona algum charme, nada comparado a Praga. Na caminhada até o centro, foi possível perceber nitidamente uma arquitetura pesada e sombria de prédios similares e alinhados, bem ao estilo dos países do antigo bloco comunista, a que assisti, por vezes, em muitos filmes. Nem por isso se pode tirar os seus méritos e importância histórica da época.
No centro, jantamos no Slovak Restaurant, bem típico e tudo tendo como base o porco, cujo destaque ficou por conta do tamanho absurdo das fatias de pão servidas como entrada. Antes de retornarmos ao hotel, uma passada em um tradicional Pub para degustação de um ótimo chope e dar boas risadas. Na Eslováquia, tudo parece ser mais barato que os demais países da Europa, o que nos permitiu ficar no Hotel Sheraton. Como de regra, desde o primeiro dia foi instituído o rodizio da duplas de quarto, com escala antecipada enviada por mensagem. E, face à escala do dia, a noite foi memorável e honrou as tradições gaúchas.
Dia 28, domingo pela manhã, antes de pegar a estrada, combinamos de conhecer o Castelo Bratislava, do século 11, localizado nas imediações do centro, no alto de um monte, onde se tem uma vista privilegiada do Rio Danúbio, suas pontes e parte da cidade. Infelizmente, o castelo está em restauração, e a parte interna do museu estava fechada à visitação. Tentamos estacionar as motos em frente à entrada do castelo, mas nosso guia da manhã foi literalmente “corrido” por um guarda muito mal-educado. Além de não entendermos nada do que dizia, além dos gestos que fazia, o fato foi cômico e se prestou a muitas gargalhadas.
Mais uma vez ajustamos o GPS para evitarmos a autoestrada e, outra vez, pegamos estradas menores em direção a Budapeste, capital da Hungria. Na saída da cidade, após a travessia do Rio Danúbio, abastecemos as motos e realizamos um lanche rápido, em um posto de serviço acanhado, onde um grupo de motociclistas se encontrava.
O amigo CP puxava o grupo desbravando aquele território simpático por ótimos caminhos e paisagens revigorantes, pela quais circulavam muitos motociclistas. Após rodarmos uns 120 km, muito próximo ao Rio Danúbio e costeando montanhas com muitos bosques, entre campos e plantações, chegamos à cidade de Komárno, fronteira com a Hungria.
Percebemos que se tratava da divisa de países em razão das edificações antes da ponte, mas todas estavam fechadas sem qualquer sinal de vida. A abolição dos controles fronteiriços e o livre acesso entre os países da Comunidade Europeia são uma demonstração de civilidade e tentativa de união entre os povos da região, que, ao longo dos séculos, sofreram com anexações, divisões e invasões.
Uma rápida parada para registros fotográficos do grupo, das motos, da antiga aduana, do Rio Danúbio e da ponte que liga o pequeno e jovem país da República Eslováquia com a Hungria.
Logo que passamos para o outro lado do Rio Danúbio, na cidade de Komárom, Hungria, bem menor, foi possível identificar com clareza a face da antiga cortina de ferro, pelo aspecto exterior e aparência de tristeza do lugar, muito modesta, embora limpa e organizada. As duas cidades já foram uma só, seja pertencendo à Hungria ou à antiga Tchecoslováquia e possuem o mesmo nome, só diferem na grafia.
Parada rápida no primeiro posto de serviço para adquirir a vinheta, para transitar no país por 10 dias, no valor de 1.470 florim húngaro, em torno de 5 euros, que, na Hungria, não é tipo selo, mas um tíquete no qual consta, inclusive, a licença da motocicleta. Nossos parceiros tradutores, que falam alemão, já sentiram que a comunicação com o húngaro, como também foi com o eslovaco, não seria muito fácil. O jeito era encontrar alguém que falasse inglês, normalmente os mais jovens.
Pegamos a estrada novamente e, para nossa alegria a quantidade de motocicleta circulando aumentava na região. Ao alcançarmos um casal motociclista, que não tardou em sinalizar e entrar em uma estrada à esquerda. O CP, que continuava a puxar o grupo naquele momento, observou no GPS que havia uma estrada muito sinuosa naquela direção e o seguiu.
Eu, particularmente, e os outros também, não entendemos, no primeiro momento, pois já estávamos nos deslocando por uma rota alternativa do interior e seguindo o GPS, mas não tardou e percebemos que era uma rota de motociclistas pela grande quantidade que circulava em ambos os sentidos. Era um domingo de sol, um dia perfeito para pilotar uma moto, e os motociclistas húngaros e eslovacos sabiam disso e escolheram, por certo, a melhor rota.
A estrada vicinal, sem acostamento, que subia e descia uma região de baixas montanhas, quase toda agricultável, com infinitas curvas, permitiu ao grupo brincar um pouco com as motos num verdadeiro bailado, um momento de pura diversão.
E para ficar perfeito, quando saímos de uma de tantas curvas, avistamos, no topo de um monte, próximo ao povoado de Nagysáp, o restaurante Granárium, construção nova, com estacionamento especial para motociclistas, onde havia um armário metálico com cabide para colocar a jaqueta, espaço para capacetes e pertences e um sistema com cabo de aço para segurança da moto. Muito bem projetado e que facilita a circulação e a estada dos motociclistas no interior do restaurante. Um momento especial, boa comida, uma bonita vista com o ininterrupto circular das motos que quebravam o silêncio e a paz do lugar.
Depois de um bom papo do grupo com o dono do restaurante, seguimos para Budapeste onde chegamos no final da tarde e fomos direto para o Hotel Mercure, com apenas 251 km rodados no dia.
O percurso para o hotel, circulando pela margem do Rio Danúbio, já indicava, aos nossos olhos e mentes, a grandiosidade da beleza da cidade de Budapeste divida pelo rio. Infelizmente, o trânsito era intenso naquele momento, aliado aos cuidados com os bondes que cruzam transversalmente muitas vias, que, com as seis motos, tornou impossível um pit stop fotográfico.
Antes do anoitecer, ainda foi possível dar uma caminhada pelo centro do lado “Peste” da cidade, onde estão localizados a maioria dos hotéis, centros comerciais, grandes prédios e as charmosas confeitarias e cafés, que justificam a fama de noites agitadas da cidade. Após o jantar em um restaurante bem estilo taberna, bem animado, quando as risadas foram adornando o bom papo que permitia ao grupo ampliar as amizades, o conhecimento, a fraternidade e, sobretudo, a satisfação do convívio da viagem, foi possível curtir o visual noturno da cidade caminhando à beira do rio.
Dia 29 tiramos a manhã para conhecer um pouco da grande e bela Budapeste. O dia amanheceu um pouco acinzentado e com algo parecido com cerração, que dificultava a visão ao longe. A pé, fomos conferir alguns pontos, caminhando pela beira do Rio Danúbio admirando o prédio do Parlamento, o qual se identifica de longe, lembrando o Parlamento inglês. Magnifico.
Do outro lado do rio, em Buda, utilizamos o antigo funicular para subir até o Castelo de Buda. Na verdade, no morro se encontra uma igreja, museus, monumentos e praças, com uma vista privilegiada do Rio Danúbio e da cidade de Budapeste. As fotos ficaram um pouco prejudicadas, mas, sem dúvida, a vista noturna do castelo, prédios e monumentos é um espetáculo incomparável.
A história húngara é muito rica e o número de atrações da sua capital é muito vasto, que aliado a uma arquitetura clássica, o que a torna uma das capitais mais belas da Europa. Uma cidade que merece um retorno para ser mais bem explorada.
Quando retornamos do castelo, ainda caminhamos um pouco mais pelo centro e calçadões nas imediações do hotel, registrando algumas fotos e comprando suvenir.
Passado das 12 horas, check-out no hotel e pegamos a estrada para Zagreb, na Croácia. A saída de Budapeste em direção a Zagreb é muito bonita, e o início de tarde ainda se mantinha com a temperatura agradável, em torno de 12 graus, tempo nublado e ótima estrada. Na paisagem, se observavam pequenas propriedades bem estruturadas.
Depois de rodar, aproximadamente 70 km por autoestrada, viramos à direita para contornar o grande Lago Balaton, por uma rota do interior para conhecer ao máximo o estilo de vida do país.
Em Balatonalmádi, povoado à beira do lago, encontramos o ótimo Restaurant Határ, onde degustamos o almoço por quase uma hora, em meio a bom papo, ajustes de roteiro e busca de hotel para pernoitar em Zagreb.
O lago tem mais de 70 km de extensão, e seu entorno é praticamente área de lazer, com muitos povoados e casas ajardinadas. O verde da vegetação é abundante. Seguimos em direção à península de Tihany que avança no lago para atravessá-lo pelo ferry. Um povoado muito bonito, mas, como perdemos o horário do ferry, preferimos fazer todo o contorno no lago, o que atrasou muito a tocada do dia, pois a infinidade de curvas e acessos na estrada, no final, se verificou cansativa e pouco interessante, face à similaridade de paisagem.
Retornamos à autoestrada e, ao entardecer, passamos a fronteira da Hungria com a Croácia, onde havia toda a estrutura do antigo controle aduaneiro, bem iluminado, mas com as cancelas abertas, foi só seguir em frente. Na Croácia, não há vinheta para transitar pelas autoestradas, mas havia dois controles de pedágios com apenas as máquinas operando. Um pouco antes da cidade de Zagreb, encontramos o controle ao qual entregamos os tíquetes e pagamos os pedágios, que, ao todo, custaram 7 euros.
Acessamos o centro de Zagreb para chegarmos ao Hotel Garden por volta das 20 h e 30 min, quando o odômetro parcial da moto marcava 406 km . Todos estávamos cansados da caminhada da manhã e do trecho travado em torno do lago e queríamos um bom banho. O hotel, em um prédio antigo, todo renovado internamente, seria muito bom não fosse a falta de elevador que estava por ser instalado e nossos quartos estavam no sexto pavimento. Tema que rendeu boas risadas e brincadeiras entre os amigos durante o jantar.
Na manhã do dia 30, aproveitamos para conhecer a parte da cidade velha de Zagreb, onde se concentram várias de suas relíquias históricas, como as imperdíveis ruelas estreitas e sua arquitetura de muitos séculos, a Praça Jelacic, o grande e belo prédio do Museu Mimara, a Catedral em estilo gótico e a Rua Dolac com suas tendas e vendedores vestidos com roupas típicas, as frutas da região, um conjunto fabuloso e harmônico.
Era ir caminhando e descobrindo a cada rua um bom ângulo para fotografar. A impressão que ficou foi que o país merece ser mais bem explorado, especialmente as cidades como Drubrovnik, Split, Lozovac e Rijeka no litoral do Mar Adriático. As informações dão conta que são imperdíveis.
No início da tarde partimos para Ljubljana, na Eslovênia, com temperatura agradável e tempo nublado em direção a região da montanha próximo à cidade. A estrada estreita vai serpenteando a montanha com curvas fechadas em meio à mata. A motocada do dia foi um roteiro que alegrou a turma.
Chegando ao topo dos 1.033 m.s.n.m., encontramos a estrutura da estação de esqui Sljeme, com vários bares e restaurantes. Como estava fora da estação de inverno, apenas dois restaurantes estavam abertos.
Enquanto alguns registravam fotos e filmavam, um tirava uma sesta antes do almoço no gramado sob as árvores, uns tentavam comer e beber alguma coisa, e outros verificavam rotas em mapas e GPS. Quando nos acomodamos no “deck”, anexo a um restaurante, com uma vista privilegiada de boa parte da cidade, o garçom informou que só aceitavam a moeda local, kuna croata. Nada de euro ou cartão.
Assim, após definirmos que seguiríamos pela montanha em direção à Eslovênia, começamos a descer por estradas sinuosas em meio a muito verde. Estrada estreita e molhada em alguns trechos, ficou difícil uma tocada forte, inclusive um parceiro “se safou” com a eficiência do controle de tração da motoca. Quando atingimos uma região mais plana, a estradinha começou a adentrar em propriedades, plantações, vilarejos e povoados, foi ficando mais estreita, só circulava um veículo de cada vez. Em dado momento, dava-nos a impressão de que, a qualquer momento, entraríamos na sala ou cozinha das residências, pois, em algumas, nem pátio na frente havia.
Depois de bom tempo curtindo esse trecho de “louca aventura”, encontramos um restaurante com boa aparência em um dos vilarejos, estacionamos as motos, desequipamo-nos e tal ... e fomos informados de que só aceitavam a kuna croata. Aí lembramo-nos de quando muitos de nós reclamamos ao rodarmos pelo interior dos países da América do Sul e alguns estabelecimentos só aceitarem a moeda local. Verifica-se que isso ocorre mundo afora.
Não tardou e encontramos uma estrada secundária excelente, e, repentinamente, estávamos no povoado de Rigonce, saindo da Croácia. Eu, sempre atento ao cenários, aproveitei a parada para fazer umas fotos das plantações e casas muito bem ornamentadas com flores. Era um pequeno vilarejo, algumas casas novas, e outras, nem tanto, indicando o uso como galpões, tudo muito organizado.
O controle aduaneiro croata nos permitiu passar sem qualquer identificação. Atravessamos uma ponte sobre um pequeno rio e, a uns 200 metros à frente, a aduana da Eslovênia. Coincidentemente, os amigos com dupla cidadania estavam à frente e, ao serem abordados para mostrarem os passaportes não tiveram problemas, eram da CE. Quando chegou a vez dos brasileiros, foi-nos informado de que aquela fronteira é só para trânsito da CE, os estrangeiros só poderiam acessar o país pela autoestrada, onde tem o controle geral. Levamos “na boa” a bola fora, mas o pior estava por vir.
Começamos o retorno e verificamos, após rodarmos algum tempo, que havia o Rio Sava entre a região em que estávamos e a autoestrada, e não havia ponte que ligasse as duas estradas. É o rio que atravessa Zagreb e se estende até Ljubljana na Eslovênia. Resultado, praticamente tivemos de retroceder a cidade de Zagreb para pegar a autoestrada. Bem, ai paramos em um posto de serviço para abastecer e fazer um lanche, pois as barras de cereais já não estavam dando conta ...
Na entrada da Eslovênia, os amigos com dupla cidadania passaram direto pelo amplo complexo da aduana, enquanto os quatro cidadãos brasileiros tiveram de dar entrada no país com o passaporte, muito rápido, apenas um carimbo, apresentamos o documento da motocicleta e estávamos autorizados a seguir.
Chegamos a Ljubljana no final da tarde. A distância de Zagreb é apenas 140 km, mas, com o passeio pelo interior, o dia fechou com 291 km. Fomos direto ao Hotel Park, localizado muito próximo do centro, apenas 10 minutos a pé.
Saímos para jantar, desfalcados de um integrante do grupo que preferiu ficar no hotel. Depois, ainda caminhamos um pouco pelo centro e chegamos à margem do Rio Ljubljanica que corta o centro e onde parece acontecer a vida noturna da cidade. Na verdade, grande parte da região do centro e o morro do Castelo de Ljubljana é uma ilha cercada pelos rios Ljubljanica e Gruberjev.
Após jantarmos, aproveitamos para sentir o clima bucólico da cidade em um dos inúmeros bares espalhados dos dois lados do Rio Ljubljanica, todos muito concorridos, o que, para uma terça-feira, bem sinaliza o modo alegre e descontraído da cultura eslovena. Tivemos a nítida impressão de que Ljubljana é um point ou refúgio dos europeus em busca de vida noturna diferenciada. O idioma incompreensível é um limitador, a exemplo da Hungria, Croácia e Eslováquia, nas cidades maiores é possível a comunicação em inglês.
Aqui cabe um comentário para não passar batido. Quando estávamos no hall de entrada do hotel aguardando alguns amigos decidirem se iriam sair para jantar, ficamos devorando os folders e livretos de divulgação da Eslovênia e Ljubljana. Verificamos que o país tem dimensões minúsculas, uma população de pouco mais de 2 milhões de habitantes, mas abriga uma grande quantidade de atrações belíssimas escondidas na paisagem.
Na fronteira com a Itália e a Áustria, na região montanhosa dos Alpes, a paisagem se divide entre campos esverdeados e a existência de um grande complexo de cavernas. No pequeno trecho do litoral Adriático, encontra-se um dos mais belos oásis de água cristalina. A Eslovênia também se destaca, com força, na rota do ecoturismo, com florestas, rios, lagos, centro de esqui, fazendas turísticas, pântanos e turfeiras.
Outros atrativos culturais também se destacam, como os impressionantes castelos medievais espalhados pelo país. Castelo Bled, construído no século 11, e Castelo Predjama, do século 12, o mais impactante e visitado do país. A gama de fotos que folhávamos, imediatamente gravava, em nossa mente, a necessidade de retornar para conferir e sentir melhor a Eslovênia, como sugeria a capa da revista informativa, “I feel Slovenia”.
O dia primeiro de outubro previa tempo chuvoso para a região das montanhas, sentido Áustria e Alemanha. Um parceiro do grupo decidiu pegar a estrada mais cedo em direção a Grossglockner, travessia mais alta dos alpes austríacos. Os outros integrantes ficaram para conhecer um pouco mais da cidade.
Subimos o morro que dá acesso ao Castelo de Ljubljana, um dos mais famosos e importantes do país, construído no século 17 como fortaleza, atualmente abriga um museu de história. A vista da cidade é fantástica, não fosse o tempo que se mostrava contrariado aos nossos interesses.
Nossa visita foi relativamente rápida, pois a cara feia das nuvens escuras davam notícias de que a chuva se aproximava. Mas esse prenúncio não impediu que fizéssemos algumas fotos e que, após algumas discussões históricas de teorias improváveis e outros tantos devaneios, tivéssemos descobertos que os integrantes do grupo eram descendentes direto e herdeiros da dinastia milenar do 3BK. Essa fantástica descoberta no interior do Castelo de Ljubljana continua rendendo divertidas brincadeiras e mantém o grupo unido até os dias de hoje, mas é tema da “milha”, aquele do tipo, “tudo que acontece na milha, fica na milha”.
Assim fomos nos despedindo de Ljubljana, deixando para trás um gostinho de quero mais, pois esse é o preço que se paga quando o tempo disponível é curto. Foi possível sentir que a cidade, embora pitoresca, é vibrante, marcada por fortes tradições históricas e artísticas, e, além de ser o coração cultural e político, demonstra uma hospitalidade que cativa o viajante.
Se você se encorajar em visitar esse pequeno país chamado República Eslovênia, podemos afirmar que você não vai entrar numa “furada”.
Pegamos a autoestrada com o azimute apontando para Lienz, no pé dos alpes austríacos, rumo a Grossglockner, para encontrarmos, em algum lugar, o parceiro madrugador daquela manhã sombria que prometia chuva. Após rodarmos pouco mais de 90 km por estradas espetaculares e paisagens deslumbrantes, passamos pela aduana da Eslovênia carimbando a saída do país no passaporte e seguimos livres ao entrar na Áustria.
O cenário de montanhas continuava a nos cercar, mas a chuva logo nos pegou de mansinho para mostrar sua força nos km seguintes, embora a temperatura de 15 graus. Também algumas obras de ampliação e manutenção bem sinalizadas, alguns túneis que entravam montanha adentro, um deles por quase 8 km, onde se paga uma tarifa de 11 euros para a travessia.
Com o trecho em obras próximo ao acesso a Graz Villach, dois incautos parceiros seguiram para o lado oposto ao indicado na sinalização, possivelmente atrapalhados pela chuva e viseira embasada. Mas ficou de bom tamanho o passeio que foram obrigados a fazerem, pois nos permitiu, enquanto aguardávamos logo adiante, capturarmos o registro de um castelo na crista de uma grande elevação e um povoado entre vales e montanhas em meio às nuvens que baixavam na região.
Próximo a Spittal an der Drau saímos da Autoban A2 e seguimos por uma estrada simples, mas perfeita, entre as imponentes montanhas e sob o manto de um verdadeiro aguaceiro. As estradas eram tão boas por lá que, com a boa performance das motos novas, foi possível manter uma boa tocada.
E assim fomos por uns 110 km até chegarmos a Lienz, onde paramos para fazer um lanche e decidirmos o que fazer. Subir a montanha com chuva e nevoeiro para passarmos por Grossglockner, ficarmos na pequena e linda cidade de Lienz no vale que ascende às altas montanhas, ou ir a Salzburg. Depois da conferência, o grupo definiu retornar até a Autoban e seguir para Salzburg.
Ainda aproveitamos o pit stop para fazer a reserva do NH Salzburg City Hotel, onde chegamos no final da tarde com chuva até o acesso à cidade, e quase 400 km rodados. O horário era de muito tráfego, pista molhada, com os longos trólebus dominando os espaços das ruas, o que exigiu mais atenção ao trânsito que na tela do GPS. Embora seja a quarta maior cidade da Áustria, Salzburg tem menos de 150 mil habitantes.
Parece que todas as principais cidades dessa região da Europa são cortadas por rios. Salzburg não é diferente, o Rio Salzach parte o centro e a cidade, o que, de certo modo, favorece, ao bom estilo e charme, as cidades, que mais parecem um lindo jardim com requintes de beleza.
Ainda chuviscava quando saímos para apreciar o centro, comprarmos os famosos chocolates de Salzburg, presentes, souvenirs, e para o nosso parceiro versado em vinhos adquirir alguns exemplares raros da região. Foi o possível a fazer antes de nos deliciarmos com um bom prato típico e boa cerveja no Restaurante Alter Fuchs, bem tradicional de Salzburg. Eu continuava na água mineral sem gás e sem gelo, mas a diversão com o colóquio pós dia de estrada era a mesma.
Em troca de mensagem com o parceiro desgarrado, tomamos conhecimento de que ele já havia encontrado uns austríacos “amáveis” e estava hospedado no alto da montanha, em Pinzgau, e parece ter dormido ao som de um gaiteiro e cantantes da terceira idade.
Ao final da noite, depois de verificarmos que a previsão do tempo para o dia seguinte na região dos alpes continuava marcando chuva, decidimos antecipar o retorno a Munique para ir à Oktoberfest e à loja da BMW. Reservamos um hotel com uma localização muito próxima do parque da Oktoberfest e informamos o amigo que pernoitava em Pinzgau da nossa programação para o dia seguinte e endereço do hotel.
Sem muito estresse, a nossa partida de Salzburg, dia 02, foi às 9 h e por autoestrada, maior parte em Autoban. A ideia era aproveitar o dia em Munique. A chuva ameaçou, mas não caiu por toda a manhã, que se manteve fechada e com cerração.
A região dos Alpes entre Salzburg e Rosenhein, quando ainda se está rodando para oeste, é um importante roteiro turístico a partir de Gad Reichenhall, passando por Ruhpolding até as águas azuis do maior lago da Baviera, o Chiemsee. Infelizmente, só ficamos com o registro visual das notáveis paisagens das montanhas e dos vales jardins, embelezados por pequenos povoados de casas esparsas.
Com ótima estrada para acelerar, a turma se empolgou e fizeram os motores elevarem o giro para percorrer os 146 km de distância, tanto que fiquei um pouco para trás, mantendo a velocidade de cruzeiro entre 140 e 150 km/h. Passei lotado pela primeira saída de acesso a Munique e só deu tempo de ver os parceiros passando por cima de um dos viadutos. Segui em frente, e o GPS recalculou para a próxima saída, 20 km à frente.
Assim, entrei solo em Munique por outro lado da cidade e, às 11 h, eu estava estacionando a moto em frente ao hotel. Cinco minutos mais tarde o grupo também chegou. O tráfego era intenso, mas muito bem ordenado, com todos respeitando as regras e que nós não dominávamos completamente. Especialmente algumas conversões e pistas especiais para os trólebus e táxi.
Colocamos as motos na garagem, instalamo-nos no hotel e acordamos de irmos à Loja da BMW em uma hora. Reunião no hall e com as informações da recepcionista e do mapa da cidade, chegamos até a estação de trem Hauptbahnhof, um dos pontos de referência de Munique, que ficava há poucas quadras do hotel. Seguimos para a loja da BMW de metrô, pois tem uma estação na porta de entrada. Uma barbada!
A loja é imensa e ficamos por lá em torno de uma hora, onde alguns aproveitaram para fazer algumas compras direto na fonte. Dá para se dizer que tem tudo. Só lembro de ter conhecido uma loja desse nível, que é a Irv Seaver Motorcycles, em Orange, CA, EUA.
Pegamos outro trem para a Marienplatz, o outro ponto de referência da cidade, onde se pode explorar muitas atrações pela redondeza. Toda a área é recheada de belas construções seculares de estilo barroco e gótico que se misturam ao moderno, mas o que impressiona é a quantidade de pessoas, notadamente turistas, no largo onde está o Rathaus, um belíssimo prédio que abriga a prefeitura. Impossível deixar se ser fotografado.
Caminhamos poucas quadras adiante e chegamos à cervejaria Hofbräuhaus. Todo bom cervejeiro sabe que é a mais famosa do mundo, o que não era o meu caso. Mas, pelo que percebemos, sem dúvida, deve ser a mais visitada do mundo. Foi fundada em 1589.
É formada por um complexo de salões amplos, o principal no térreo possui todas as portas e janelas em arco, o teto e pisos completamente decorados com pinturas de brasões e bandeiras, dando um toque de requinte e originalidade.
Rapidamente conseguimos uma mesa no salão principal, o mais concorrido, e aí, meus irmãos e amigos leitores, foi difícil abandonar aquela mesa consagrada à melhor cerveja. Levantar? Só quando a bexiga reclamava! E assim foi, às 16 h as 21 h e 40 min, entre um prato típico da Baviera, uma salsicha branca, muita, muita cerveja e o sempre presente pretzel, muita risada, dança, gritaria, debate e até um companheiro tentando falar japonês. Eu tomei um copo grande de chope sem álcool, óbvio que foi o melhor que já tomei, e ri muito com os amigos.
No balanço, dois passaram da cota nos litros de cerveja, um não conseguiu terminar de comer um prato de sushi e sashimi. Por pouco não fechamos o local. No final da noite, todos a salvo no hotel, quando reencontramos o amigo que havia seguido por outra rota no dia anterior.
Duas coisas me chamaram a atenção no Hofbräuhaus. As mesas amplas e compartilhadas, muito interessante, especialmente para você se misturar com os locais e mesmo com pessoas do mundo, uma experiência diferente para nós. A outra foi o comportamento dos alemães, que, de regra, têm postura mais contida, na cervejaria apresentavam uma atitude mais solta, conversando alto, gritando, cantando, dançando e batendo com as canecas enormes nas mesas, com muita festa e descontração. A visita é inesquecível e necessária!
Retornando ao hotel, combinamos fazer uma visita ao Parque da Oktoberfest após o café e partiríamos após o check-out para Frankfurt.
A visita ao Parque da Oktoberfest, no dia 3, foi com uma manhã nublada, perfeita para caminhada de poucas quadras. Desde cedo, o movimento é intenso, todas as ruas que chegam ao parque estavam tomadas de grupos de pessoas, a imensa maioria alemães.
Por lá também tudo é grandioso, muitas opções para os adultos nas tradicionais cervejarias e muitas atrações e parques temáticos para as crianças. Visitamos a cervejaria Hofbräuhaus no parque e, novamente, é impressionante o tamanho e a quantidade de pessoas bebendo cerveja e chope às 10 horas da manhã.
Como dois parceiros queriam descansar um pouco mais porque iriam retornar ao Brasil no sábado, seguiram direto para Frankfurt pela Autoban. Eu e mais três parceiros fomos por Autoban até Stuttgard, depois pegamos estradas secundárias, passando por uma pequena cidade na qual mora uma amiga do Felipe.
Enquanto ele visitava a amiga, combinamos fazer um lanche e aguardar no posto de serviço do povoado, marcado no GPS. Chegamos ao endereço e havia uma revenda de automóveis no local. Fomos para o outro mais próximo e passei uma mensagem ao Felipe. Aguardamos mais de 30 min, e o GPS do Felipe, que estava em outro ponto, mandou para outra estação de serviço. Aí ele acabou seguindo solo pela Autoban. Eu e os dois parceiros continuamos pelas estradas secundárias e chegamos, à boca da noite, no Hotel B&B em Frankfurt.
Era o dia da despedida das motocas e de concluir a trip pegando as estradas pelo interior, foi muito bom, pois nos possibilitou conhecer um pouco mais do país. Uma pilotagem com velocidade mais baixa sempre nos permite uma atenção maior ao cenário que está a nossa volta.
O interior da Alemanha é caracterizado por sua magnífica paisagem. A sua área rural tem um cenário bucólico e pitoresco com a grande quantidade de cidadezinhas que vão se empilhando ao longo das vias interioranas e quase sempre junto aos rios, outra grande característica alemã.
Fomos jantar no restaurante Kuhstall, novamente pela comodidade de estar perto do hotel. Dessa feita, a garçonete foi outra, e o atendimento não foi tão legal. Mas a cerveja estava gelada e a comida, boa.
Na manhã do dia 4, por volta das 9 h e 30 min, entregamos as motos sem problemas extras. As motos se comportaram muito bem, como era o esperado. Todos estávamos acostumados com os tipos de motos locadas, eram novas e a empresa, desde o início, se mostrou muito séria, competente e amigável. Assim, foi possível curtir mais a viagem.
Com dois carros locados, seguimos para Colônia para visitar a Intermot 2014. Uma das maiores feiras de moto do mundo.
Na entrada do complexo do moderno Koelnmesse, onde se adquire o ingresso, recebemos um livreto com 32 páginas com todas as informações detalhadas do evento, mapas dos pavilhões e localização de cada estande, restaurantes e atrações. Todas essas informações também estavam disponíveis gratuitamente para download no seu smartphone.
Almoçamos e iniciamos a percorrer os principais pavilhões e estandes, pois tudo é muito grande por lá e precisaríamos de mais tempo, o que não tínhamos. Para se ter uma ideia da grandiosidade da Intermot de Colônia que nesse ano comemorou seus 50 anos, eram mais de 900 expositores de 35 países e mais de 1000 marcas, e tudo isso abrigado por mais de 118 mil metros quadrados.
Além de encontrar tudo que se refere a duas rodas, a programação é cheia de eventos atrativos, inclusive para crianças.
Os amigos Ramon e Alexandre Aggens retornaram no final da tarde para Frankfurt onde embarcaram de regresso ao Brasil naquela noite, enquanto eu com os demais amigos permanecemos até mais tarde e, mesmo assim, não conseguimos passar por todos os pavilhões.
Depois de nos instalarmos no Hote Holiday Inn, no centro, onde o Rio Reno corta a cidade, fomos conhecer a Catedral de Colônia, estilo gótico, com torres de mais de 157 metros de altura, é a maior da Alemanha e uma das mais famosas da Europa. As fotos externas ficaram a desejar, pois não estávamos no momento com uma boa câmara.
Não tínhamos nenhum religioso fervoroso no grupo, mas era impossível deixar de visitar uma majestosa igreja como essa, pois a sua arquitetura fascinante era história na certa. É impressionante a sua beleza.
O centro de Colônia estava bastante agitado naquela noite de sábado, com a grande concentração de lojas, restaurantes, bares e pubs. Encontramos um restaurante típico mais que centenário para jantar.
No domingo, dia 5, aproveitamos para conhecer a região vinícola às margens do Rio Mosel. Passamos por Bonn e seguimos até as imediações de Koblenz, sempre margeando o Rio Reno, uma pena que o tempo estava muito nublado e com alguns chuviscos.
Quando alcançamos o Rio Mosel, começamos a descer em direção a Trier seguindo suas curvas sinuosas e vales profundos, com paisagens magníficas e muitos vinhedos nas encostas. A região é repleta de cidadezinhas históricas, como Bernkastel, Traben, Zell, Müden e Trier. Com a inspiração advinda de cada cena que se descortinava ao subir e descer por vales e curvas, foi-me possível imaginar sentado à margem do rio, saboreando um bom vinho regional, tendo à frente um castelo milenar. É uma região que merece uns 4 dias para visitar com tranquilidade.
Mas, definitivamente, o dia foi péssimo para curtir uma das regiões mais belas da Alemanha, e o tempo só melhorou um pouco antes de chegarmos a Trier quando era passado das 13 horas, nosso destino do dia. Uma grande dica do nosso amigo e guia Felipe Klein, que morou e estudou na Alemanha por quase um ano.
A simples chegada a Trier já foi um encantamento, conhecer um pouquinho foi espetacular. E parece que os Deuses Romanos conspiraram para que o tempo abrisse em homenagem aos novos visitantes do dia.
Trier ostenta ser a mais antiga cidade da Alemanha, fundada no ano 15 a.C. pelos romanos, e de possuir a maior coleção de ruínas romanas do norte da Europa, em destaque para a Hauptmarkt com fachadas de prédios centenários, a Porta Negra, último dos quatro portões da cidade de Trier, do século II, as notáveis ruínas de Kaiserthermen, os maiores banhos do mundo romano, do século IV, a Catedral Dom St Peter, considerada a mais antiga da Alemanha e a Konstantinbasilika construída para ser uma sala do trono do imperador Constantino no século IV. A cidade foi tão importante na antiguidade que chegou a se tornar a capital do Sacro-Império Romano no século III.
Depois de 2 h caminhando por uma cidade de mais de dois mil anos, sentamo-nos no Restaurante Pizzeria Te Basilika, na Konstantinplatz, onde almoçamos, na parte externa, mesmo com o friozinho dando o ar da graça. Era literalmente incompreensível deixar de apreciar toda aquela maravilha diante de nossos olhos. Impressionantemente irresistível.
Retornamos a Frankfurt onde chegamos ao final do dia e nos hospedamos no Hotel Holiday Inn no centro. Como optamos pelo centro, aproveitamos a noite para conhecer um pouco da parte histórica da cidade, na verdade, a pequena Praça Römerberg, com alguns prédios típicos reconstruídos depois da total destruição da Segunda Grande guerra.
Depois de caminharmos muito atrás de uma indicação da recepcionista do hotel, acabamos em um restaurante muito tradicional e centenário a poucos metros da Praça Römerberg. Foi para fechar nossa viagem à Alemanha em alto estilo. Histórico!
Ao voltar ao hotel, o nosso mestre apreciador do bom vinho fez reconhecimento das melhores casas de vinho para, na manhã seguinte, retornar às compras da sua seleta lista.
Na manhã do dia 6, fomos atrás de loja de acessórios para bicicleta, depois eu fiquei pelo hotel para organizar minhas coisas, enquanto a turma continuou nas compras dos últimos presentes e vinhos.
No início da tarde, ainda fomos a uma grande loja de acessórios para moto e na loja da BMW, esta foi uma decepção, pelo pequeno espaço, poucas opções e pelo atendimento ruim.
No meio da tarde, o nosso amigo CP queria se despedir dos parentes, e nós o acompanhamos até uma pequena cidade próxima a Frankfurt, na mesma direção do aeroporto onde entregamos o carro.
A recepção da tia do CP, Srª Margarida, brasileira que mora por lá há mais de 40 anos, sua filha Silvia e netas Leona e Marila foi muito bacana. As duas netas, Leona e Marila, aos poucos se soltaram e não demorou já estavam no colo e fazendo fotos.
Mas nosso amigo acabou pagando mico com a tia, pois deixou de levar um bolo para o chá da tarde. Ela se comprometera com uma torta e o chá. Ela passou um “pito” na brincadeira séria de alemão, e ele foi salvo pela prima, que desconfiada levou um bolo. Outro motivo para boas brincadeiras enquanto aguardávamos no aeroporto o embarque ao Brasil, às 22 h.
Assim, terminou nossa viagem por alguns países do leste europeu. Um grupo experiente de amigos que compartilham a mesma paixão pelas duas rodas. O planejamento básico que realizamos foi eficiente em todos os sentidos, pois, com o pouco tempo de que dispúnhamos, conseguimos cumprir o roteiro principal proposto sem qualquer incidente que embaçasse a viagem.
Nossa decisão de locar as motos diretamente e realizar toda a viagem com nossa organização também se verificou positiva, pois fomos os senhores de nossos destinos por todo o tempo, parando onde queríamos, curtindo o caminho, as cidades, alterando rotas, combinando nossos horários, enfim, tudo de que um motociclista gosta, a liberdade.
Por fim, quero registrar minha imensa gratidão a todos os amigos do grupo, que compreenderam minha situação atual e foram tolerantes e parceiros em muitos momentos de minhas preocupações e reflexões insondáveis. Obrigado a todos pela boa experiência que vocês me proporcionaram viver. E, como já disse, eu estava precisando! Voltei renovado e confiante em um futuro longo, de vida e de novas viagens e aventuras.
Até lá, até lá, até lá!

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Renato Lopes Motoviagem & Aventura

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