Renato Lopes

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Viagens e Aventuras


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Iron Butt Association - 2004 - Bur Burner 1500

Iron Butt Association - 2004 - Bur Burner 1500

SaddleSore 1000 e Bur Burner 1500
Logo após realizarmos a prova SaddleSore 1000, da Iron Butt Association, em dezembro de 2003, já começamos a cogitar mentalmente os próximos passos para novos desafios. Foi em uma viagem de trabalho que a dupla inicial do primeiro SaddleSore, Renato e Bastianelo, começaram a projetar, com mais atenção, outros desafios que nos oferecessem maior grau de dificuldade, até porque eu tinha em mente realizar nova grande viagem pelos países da América do Sul.
Assim surgiu a decisão de fazermos o desafio Bun Burner 1500. Essa prova, significa que o motociclista deve percorrer 1500 milhas, cerca de 2414 km, em até 36 horas. Seguramente estávamos conscientes de que o esforço físico e mental seria bem maior, não só pela distância, mas, fundamentalmente, pelo tempo de pilotagem. Mas aí falou mais alto a determinação e a vontade de testar nossos próprios limites.
Quando nosso amigo gaudério, Jeferson Marchiori, grande parceiro de viagem, ficou sabendo da idéia, ficou tão entusiasmado que o convidamos para fazer parte do desafio Bun Burner 1500, já que também já havia realizado o SaddleSore 1000 e é um grande entusiasta de aventuras sobre duas rodas.
Foram feitas algumas reuniões de planejamento e acerto dos detalhes para colocarmos em prática nossa vontade, tipo, o roteiro escolhido, melhor horário para a partida, estimativa da velocidade de cruzeiro, previsões de abastecimentos, documentação e, finalmente, a data para entrarmos novamente em ação.
Definida a data da partida, lá estávamos nós, às 7 horas do dia 25 de setembro de 2004, no Posto Santa Maria, na rótula da Medianeira, sob uma forte cerração para dar início ao novo desafio.
Como é de costume em nossas partidas para viagens ou desafios, lá estavam os familiares e os amigos gaudérios para nos emprestar aquela palavra amiga e a força que, logo adiante, iríamos precisar para suportar a solidão do pensamento no capacete.
Saímos de Santa Maria em direção à BR 392 para alcançar a BR 290 até Rosário do Sul. Aí realizamos nosso primeiro abastecimento e pegamos a BR 158 em direção a Santana do Livramento e Montevidéu. A seguir, tocamos direto até Taquarembó, no Uruguai, não sem antes, passarmos pela alfândega que foi muitíssimo rápida, permiso na mão e alguns pesos uruguaios para alguma emergência, já que a opção no planejamento foi de utilizarmos cartões de crédito, com o objetivo de integrar o processo de comprovação da idoneidade da prova.
De Taquarembó, pela Ruta 5, seguimos direto até Durazno onde paramos novamente para abastecer. Estrada ótima e com curvas de alta velocidade, nos proporcionou uma pilotagem segura e com menos desgaste físico. Chegamos a Montevidéu às 16 horas e 25 minutos, horário uruguaio, que já, em setembro, estava com o horário de verão. Assim, já havíamos percorrido 10 horas e meia de estrada, uma vez que nossos relógios marcavam exatamente 17 horas e 25 minutos. Tudo dentro do planejado.
Motos abastecidas, registro fotográfico na mesma avenida da prova anterior, que dá acesso à capital uruguaia, contornamos uma rotatória para retornarmos, pela Ruta 5, à fronteira. Passamos pela aduana já à noite com muita tranquilidade e rapidez e retornamos ao Brasil para logo pegar a BR 290.
Nas paradas necessárias para abastecimentos, lanche e alongamento do esqueleto, decidimos que faríamos não só o Bur Burner 1500 mas também o SaddleSore 1000, quando chegássemos a Cachoeira do Sul. E tudo deu certo. Quando paramos para abastecer, tínhamos percorrido 1043 milhas em menos de 24 horas, o que nos garantiria mais um desafio SaddleSore 1000.
Como a prova exigia que pilotássemos por toda uma noite e sabendo que nossas estradas, na época, não estavam em perfeitas condições de segurança, notadamente em relação à sinalização horizontal, que é importantíssima para se rodar à noite de motocicleta, decidimos usar coletes de refletivos de segurança, em razão de que a BR 290 é a principal rodovia de ligação Brasil – Argentina, onde o transporte de carga é intenso. Foi uma medida acertada e que nos deu confiança e segurança para aquela noite escura.
Na madrugada, aproveitávamos as brincadeiras e "tiradas" do parceriro Jeferson para descontrair e relaxar os músculos, ao menos da face, pois ninguém conseguia segurar uma boa risada, que, ao final, se transformou em terapêutica.
A madrugada trouxe, além da escuridão da noite, um imenso cansaço que estava além da nossa imaginação quando da fase do planejamento. Ao chegarmos à praça de pedágio da BR 290 após Pantano Grande, resolvemos dar uma parada para passarmos água no rosto e alongarmos, mas acabou que o Bastianello e Jeferson dormiram na calçada de acesso ao prédio enquanto eu fazia exercícios para tentar espantar o sono que me abatia de forma implacável. Ainda na BR 290, na chegada a Porto Alegre, eu estava com muito sono e sugeri que chegássemos a um Motel que fica na beira da estrada para tomarmos um bom banho, tempo suficiente para descansarmos por uma hora. Mais uma boa decisão do grupo, saímos um pouco melhor após o banho.
Após passarmos por Porto Alegre, entramos na chamada "free way", mesma BR 290 e paramos para abastecimento e lanche já em Gravataí. Na lanchonete do posto de serviço, eu comecei a me sentir mal, muita tontura, quase sem tato e coordenação. Comentei com os parceiros e logo o Jerferson sugeriu que eu estava com hipoglicemia. Tinha sentido, eu estava fazendo pequenos lanches com café, mas estava gastando muita energia, com o elevado desgaste físico e mental para suplantar o cansaço e o sono. Comi um lanche mais reforçado e uma barra de chocolate inteira e, em poucos minutos, eu estava recuperado. Foi um susto, pois nunca havia passado por um mal-estar semelhante.
Seguimos em direção a Osório e entramos na Estrada do Mar. Logo que amanheceu o dia, fomos refrescados por uma leve chuva que não nos atrasou, mas, por certo, nos impôs uma atenção e concentração a toda prova, na medida em que o cansaço e o sono não combinam com pilotar na chuva.
Ao chegarmos a Terra de Areia, realizamos o retorno em direção a Porto Alegre e Canoas, onde rapidamente almoçamos enquanto as motos eram reabastecidas. Faltavam pouco menos de 300 km para concluirmos com sucesso o desafio, e nosso tempo estava dentro do planejado, assim, foi possível almoçar com um pouco de tranqüilidade para recompor as energias necessárias para chegarmos em casa. Isso já era uma das consequências desse tipo de prova, com maior tempo de duração, pois, a cada parada para reabastecimento, naturalmente se alongava em razão da necessidade de maior tempo para recuperação.
De Canoas, seguimos pela RST 287, passamos por Santa Cruz do Sul, chegando a Santa Maria às 15 horas e 24 minutos, do dia 26 de setembro, no mesmo local da partida, onde novamente nossos familiares e amigos gaudérios lá estavam para testemunhar as nossas vitórias pessoais em superar nossos limites. Em razão do horário previsto para a chegada, e ser final de semana, a imprensa já havia publicado matéria sobre a prova.
Foram 1515 milhas em exatas 32 horas e 24 minutos de pilotagem em situação de permanente superação.
A parceria, a solidariedade, a tolerância e a fraternidade entre os integrantes da aventura foram primordiais para o sucesso e nos motivaram, a cada instante, para concluirmos com êxito o desafio Bur Burner 1500.
Agradeço ao Supremo Criador por nos dar força para vencermos o cansaço e iluminar nossos caminhos na escuridão e aos nossos familiares e amigos pela torcida constante para retornarmos em segurança.
Pilotos e motocicletas:
Renato Lopes – Suzuki GSX 750 F
Cleberson Bastianello – Suzuki GS 500 E
Jeferson Marchiori – TDM 900

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